Estudei muitos anos em colégios
particulares, e neles sempre houve rixa com outros colégios particulares, por
exemplo: é claro que nenhum colégio particular gosta do Positivo. Ele é melhor?
Não. Não é melhor que nenhum outro. Todos fazem seu melhor. É claro que o
pré-vestibular do Positivo tem mais aprovações, mas é porque tem muito mais
aluno que os outros e tem uma preparação, como gosto de chamar, “Carreirista”,
no sentido “Jogos Vorazes” da palavra. Porque tem coisa mais parecida com
“Jogos Vorazes” que o vestibular? Exame imposto pelo governo para entrar na
Universidade, que vários jovens quase se matam (sim, uma amiga minha me contou
que ficava 16h estudando) por pouquíssimas vagas. Passei pela minha experiência
de vestibular há poucos meses, fiquei dois anos na correria pra ser uma em
trinta, excluindo-se as vagas de cotas e do Sisu, precisaria ser uma em
quatorze. E nesses dois anos precisei aprender algumas coisas além das matérias
que precisaria para o vestibular.
No meu primeiro ano nesse “jogo”, fui
uma das pessoas que estudava entre 10h à 12h por dia, não saia nos finais de
semana e minha vida se resumia ao vestibular. Eu estudava pra superar o
“monstro” da primeira fase da UFPR, que é de conhecimentos gerais e é a que
menos conta pontos pra sua aprovação. Eu, que me julgava uma escritora nata e
que o meu maior talento era a escrita, não estudei para a segunda fase do
vestibular, a própria redação. Também me julgava boa demais para Universidades
particulares e não tentei entrar em uma sequer. Não passei no vestibular da
Federal. Não fiquei nem perto de conseguir entrar numa possível chamada
complementar. Então foi a hora de aprender mais duas lições: pessoas que fazem
cursinho pela segunda vez não são burras, elas estudam tanto quanto, ou até
mais, que os alunos que estão no terceirão. A outra foi ter que aprender a
viver num “Cursinho – Carreirista”, ou que eu ao menos julgava Carreirista, o
Dom Bosco.
Os primeiros dias no Dom Bosco foram
terríveis para mim. Eu sentia vergonha de mim mesma por estar ali. Todos os
meus amigos estavam na Universidade, alguns que não estudavam nem um terço do
que eu tinha estudado no ano anterior, ou durante a vida inteira, estavam na
UFPR, que era o meu sonho de vida. Mas eu precisei aprender a conviver com
aquilo. Quando deixei a vergonha de lado, fiz amizades. Amizades de verdade,
com pessoas que estavam vivendo o mesmo que eu e que me entendiam. Foi o que
tornou minha vida naquele ambiente suportável. Neste segundo ano de “jogo” decidi
me preparar para a segunda fase do vestibular. Então eu estudei português como
nunca e escrevi. Escrevi sobre todos os temas possíveis. Meu estudo para a
primeira fase era como um “hobby”, deixei as matérias que eu não gostava,
leia-se exatas, para estudar quando não tinha mais o que fazer. Estudava de
verdade história, geografia, biologia, química, português e redação. E aí saiu
o resultado do vestibular da Federal: eu não tinha passado de novo. Mas ficara
a 5 vagas do meu sonho. Eu estava muito perto. Mas me matriculei numa
Universidade particular, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná e comecei
meus estudos de jornalismo lá.
Então aprendi uma das maiores lições dos
meus pais “Não cuspa pra cima, pode cair bem na sua testa” e assim entrei na
PUCPR. Logo na primeira semana conheci muitas pessoas legais e me apaixonei
pelas oportunidades (caras) que ela oferecia, pelas pessoas e pela estrutura. Estava
já bem adaptada à rotina de lá, quando saiu o resultado da Chamada Complementar
da Federal. E pra minha euforia, eu estava convocada. Meus amigos da PUC
tiveram reações que só tornaram a minha decisão de seguir o meu sonho mais
difícil, eu não queria mais deixar eles, pois eu sabia que a partir do momento
em que eu o fizesse, nada mais seria do mesmo jeito. Por isso fiz um combinado
com meu pai: eu faria as duas faculdades, ficaria na PUC até o final do
semestre e então decidiria qual era a melhor. Mas eu queria ficar na PUC,
estava “contaminada” com as ideias de lá e de que a Federal era “uma merda”, as
cadeiras eram horríveis e diziam que nos banheiros não tinha papel higiênico.
Então uma nova colega, que tinha passado na primeira chamada, me falou o que me
convenceu a seguir meu sonho e foi: “Marcela, quando você estiver na entrevista
de emprego com UFPR no seu Curriculum, eles não vão se importar se você estudou
num lugar com cadeiras quebradas ou sem papel higiênico no banheiro, eles vão
saber que você ralou pra chegar onde está e que é alguém em que se deve confiar
pra trabalhar. E que você teve o melhor ensino possível.”.
Uma vez na UFPR senti a pressão de estar
numa Federal. Não aguentei e sai da PUC em questão de um mês. Mas nesse um mês
senti o que é uma real “rixa”, não era o que eu vivia no colégio ou no
cursinho, de simplesmente “não gostar” do “Positivo”. Meus amigos da particular
passaram a desdenhar com mais intensidade do ambiente em que eu estudava, sem
nem ao menos conhecer ele. Ser chamada de “federeca” e ouvir coisas como “a minha universidade é bem melhor”
passaram a ser rotineiras na minha vida. Então eu percebi a hipocrisia da
situação. A maior parte dos que falam mal da Federal são os ressentidos que
levaram um tapa na cara, assim como eu levei uma vez, falando que “você ainda
não está preparado pra estudar aqui”. Todos eles tentaram o vestibular dela e
não passaram. Não digo que os alunos da Federal sejam santos e que não falam
mal dos alunos e da estrutura das particulares, porque eles falam. Muitos sem
propriedade, porque também não conhecem a situação das Universidades
particulares, acreditam que lá só tem riquinho, que o “papai paga a faculdade” e
não faz nada da vida. É mentira, na maior parte. Os alunos das particulares
ralam tanto quanto os da Federal. Eles merecem tanto valor quanto os da
Federal.
Essa rixa existente entre as Universidades
é, no mínimo, ridícula. Principalmente entre os alunos de jornalismo. Nossa
profissão depende de “network”, precisamos nos conhecer e reconhecer nossos
trabalhos. No final, quando todos estivermos formados e no mercado de trabalho,
não importará, como disse minha colega, onde você estudou e em quais condições,
mas o seu trabalho! Depois de passar a loucura da faculdade, estaremos todos em
pé de igualdade e precisaremos uns dos outros. Por isso, já está mais do que na
hora de terminar essa rixa e unir os alunos das universidades particulares e
Federal pra beber uma cerveja e começar a aumentar nosso network.